Podemos ter assistido dia 05 a mais ousada e maciça fraude da história das eleições majoritárias brasileiras. Não tema os cínicos. Fale em voz alta. Isso não é uma estória de Harry Potter como a mídia quer fazer parecer. O nome do vilão não é Voldemort. Não, não é Sarney, Maluf, Bolsonaro, nem mesmo Eduardo Cunha. O nome do vilão é ?urna eletrônica brasileira?, a única do mundo que é totalmente invulnerável à fiscalização.
Em 2010, previ em artigo que o segundo turno traria, como tem sido tradicional desde 1998, um resultado negativo para a esquerda no limite da margem de erro da pesquisa de boca de urna do Ibope e positivo para a direita no mesmo limite, ou seja, dois por cento.
Foi o que aconteceu. Desta vez, no entanto, errei. Previ o mesmo limite no desvio do resultado, mas o que aconteceu agora foi selvagem. O resultado de Aécio foi muito além da margem de erro do Ibope, 3,5% além do previsto, e o de Dilma aquém, 2,5%.
Isso sem contar com o fato de que os levantamentos dos trackings e as próprias pesquisas Ibope e Datafolha de um dia anterior indicavam Aécio empatado com Marina? No dia seguinte, 12 pontos de diferença? O que uma noite não faz, não é mesmo? A questão é: faz o que, e aonde?
Mas vamos nos ater à boca de urna, porque a análise de seus números prova friamente que há fraude, em algum lugar. Quando falamos que uma pesquisa tem confiabilidade de 99% e margem de erro de 2% (o que foi o caso da boca de urna do Ibope), isso significa que o estado real das opiniões tem 99% de chances de estar no intervalo entre 2% a menos e 2% a mais que a previsão.
Em outras palavras, Aécio tinha 99% de chances de estar entre 28% e 32% dos votos. As chances dele ter mais que 32% eram de 0.5% (de ter menos idem). Ele teve 33,5%. 1,5% além da margem de erro. E pior do que isso: o outro ?erro? foi justamente sobre os índices de Dilma. Ela teve 0,5% além da margem de erro. Pra menos. A chance de isso acontecer ao acaso? Grosseiramente, é bem menor do que 0,005 x 0,005: em outras palavras, menor do que 0.000025.
Isso é particularmente grave se considerarmos as características da pesquisa de boca de urna, e dessa em particular.
A boca de urna não sofre influência das abstenções, nem de mudanças de opinião posteriores, pois pergunta somente em quem a pessoa acabou de votar. E essa pesquisa entrevistou simplesmente 64.200 eleitores de todas as regiões do país.
Como a matéria do Estado de Minas (jornal que apóia Aécio) lembra muito bem, apesar de o Ibope ter ?prudentemente? declarado uma margem de erro de 2%, uma amostra desse tamanho em relação ao eleitorado brasileiro tem, na verdade, margem de erro de somente 0,5%. O que aconteceu, é realmente incrível. E nem estamos aqui calculando a probabilidade desse desvio em relação à distância do resultado da margem de erro: quanto mais distante, mais exponencialmente irrelevante a possibilidade da ocorrência ao acaso.
Mais uma vez, saíram artigos na imprensa, como o artigo acima citado, falando da falência dos institutos de pesquisa, como acontece desde 82 com o caso Proconsult. O que convenhamos está além do patético. O PSDB, como faz desde 1998, declara que a verdadeira pesquisa é a das urnas, como se o Ibope e o Datafolha trabalhassem contra ele. Acreditar nisso, está além do ridículo. E a esquerda, como faz desde que perdeu Brizola, se cala. O que está além da covardia. Na verdade, imaginem: com a quantidade de processos que qualquer candidato sai de uma eleição, quem denunciará o TSE?
Vamos recapitular os últimos anos dessa curiosa impossibilidade estatística. Notem que a diferença na ?margem de erro? sempre sai do PT para o adversário.
Se nós estamos falando de algo que tem 0,0025% de chances de acontecer ao acaso somente nessa eleição, imagine a probabilidade de isso ter acontecido ao acaso junto com os ?erros? acima da margem de erro de 2010 (menos 4% pra Dilma) e de 2006 (mais 3,6 para o Alckmin). Acho que não é necessário mais fazer contas, não?
Mas se você acha tudo isso incrível, ainda não se apercebeu dos maiores absurdos dessas eleições.
Resultados virtualmente impossíveis aconteceram em todo país. A avalanche absurda de 40,4% dos votos em Sartori no Rio Grande do Sul, por exemplo, quando o resultado previsto na boca de urna era de 29%. É isso mesmo. A boca de urna (de 99% de confiabilidade) dava Genro (PT) 35%, Sartori (PMDB) 29%, Amélia (PP) 26%. As urnas deram Sartori 40,4%, Genro 32,5% e Amélia 21,7%. Não existem espaços nessa linha para os zeros que teríamos que escrever para expressar a probabilidade disto ter ocorrido ao acaso.
Olívio Dutra, também no RS, perdeu absurdamente a vaga no senado, depois de a boca de urna ter indicado sua vitória por 6% de diferença.
No Rio, nada menos que 8% dos votos parecem ter sido transferidos de Garotinho para Pezão e Crivella, materializando uma impossível (para quem conhece a política do Rio de Janeiro) ausência de Garotinho no segundo turno. Garotinho saiu da boca de urna com 28% e das urnas eletrônicas com 19,75% (será que todo político que enfrenta a Globo no Rio é alvo de fraude como foi Brizola?). Pezão teve mais 6% e Crivella mais de 2%, todos acima da margem de erro. No caso de Pezão e Garotinho, impossivelmente além da margem de erro. Em Minas Gerais, a vantagem que o Ibope registrou na boca de urna para Pimentel (PT) sobre Pimenta da Veiga (PSDB) se transformou de 53 a 37 para 53 a 42. E assim, a nave foi por todo país.
Há muito, muito mais barbaridades localizadas nessas eleições, e eu só estou considerando aqui aquelas que a boca de urna revelou. Mas a avalanche de Aécio em SP em 24 horas, a perda do PT no ABC, a derrota acachapante de Marina para Aécio em 48 horas, tudo isso é parte do terreno da literatura fantástica. Curiosamente, de todas essas surpresas, só uma a favor do PT: a de Rui em Salvador. A exceção que confirma (mascara) a regra? E se isso ocorreu na majoritária, porque será que temos o congresso eleito mais fisiológico de todos os tempos?
Pra mim, e pra muitos brasileiros, há algo errado com as urnas eletrônicas, não com as pesquisas de boca de urna.
No mínimo, esse erro é o STF bloquear a impressão de voto, usada em todo lugar do mundo onde se usam essas urnas, já aprovada no congresso e sancionada pela presidente. Ou em o TSE se negar a levar as urnas brasileiras, que são as mais inseguras do mundo, duas gerações à frente, como as fantásticas urnas argentinas.
Como negar ao brasileiro o direito de recontar seus votos? Isso é um crime em si mesmo contra qualquer processo democrático, e, sozinho, deveria provocar a indignação de qualquer cidadão. O sistema eleitoral brasileiro é um ultraje, rejeitado o mundo inteiro, até pelo Paraguai.
O estado das coisas se torna mais chocante com a quantidade de denúncias de fraude abafadas pela imprensa e o fato de o TSE ter terceirizado a operação das urnas nesta eleição de 2014 para empresas privadas. No fim de 2012, um hacker, em audiência pública, com a presença de deputados e vereadores, simplesmente confessou, com riqueza de detalhes, como ajudou a fraudar as eleições de 2010 no Rio de Janeiro. Incrivelmente, sua denúncia não foi apurada, a imprensa não publicou nada, a polícia não o prendeu e o TSE não se manifestou.
Ninguém aqui nega a reação conservadora nem o crescimento do sentimento anti-PT na sociedade. Mas para além disso, a maioria dos que acompanham as eleições cuidadosamente, tem algum nível de dúvida sobre seu resultado. Você pode dar de ombros e dizer que essa é uma teoria da conspiração, choro eleitoral, fanatismo, que Aécio subiu em 72 horas 14,5% sem nenhum fato novo, ou 24% em São Paulo em 24 horas (1% por hora!) porque as pessoas acordaram diferente, que Sartori ganhou 14 pontos em 24 horas no RS pelo mesmo motivo e assim por diante.
Eu só advirto que só restam duas possibilidades na mesa: ou o Ibope fraudou as pesquisas de boca de urna sem qualquer objetivo eleitoral e arruinou voluntariamente sua reputação, ou o Brasil viveu sua maior e mais escandalosa fraude até hoje. Escolha que teoria da conspiração lhe parece mais racional, porque, é só o que tem pra hoje. O acaso e o erro, estatisticamente, não são alternativa. Na verdade, não há qualquer terceira alternativa.
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