Geografia
Honduras resiste!
Agencia Brasil de Fato - Editorial
Barack Obama mostra sua verdadeira face. A América Latina não mais se curva docilmente aos ianques da Casa Branca. A resistência do povo hondurenho mostra o caminho
As eleições em Honduras, organizadas de modo a legitimar o golpe que, em 28 de junho, afastou do poder o presidente Manuel Zelaya, foram um completo fiasco. Oficialmente, o Tribunal Supremo Eleitoral declarou vencedor Porfírio “Pepe” Lobo Sosa, num processo que teria atraído pouco mais de 60% dos eleitores. A cifra é completamente falsa e absurda. Uma delegação de observadores estadunidenses, reconhecidamente de direita (vinculada ao Partido Republicano e à comunidade cubana) admitiu que a participação foi inferior a 47% dos eleitores. Já o Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos de Honduras, integrado por movimentos sociais e grupos apoiadores de Zelaya, afirma que apenas 22% dos eleitores participaram. Isto é, a população atendeu ao chamado de boicote à farsa.
Os governos de alguns dos países mais importantes da América Latina não reconhecem o resultado eleitoral, incluindo Brasil, Venezuela e Argentina. Como resultado geral, o golpe armado por Washington resultou em total fiasco, e isso é muito importante, dado o fato de que, historicamente, Honduras era considerado o “porta-aviões não naufragável dos Estados Unidos”. Sequer em seu próprio “quintal” o imperialismo estadunidense encontra-se em condições de determinar o ritmo e a forma do jogo. Em outros termos, estados assistindo à agonia da Doutrina Monroe.
Que ninguém se iluda: coube à administração Obama armar o golpe atrapalhado de 28 de junho, assim como o de tentar conferir legitimidade à farsa que deu a vitória a Lobo Sosa.
Os generais golpistas são todos graduados pela Escola das Américas, centro de formação mantido pelo exército dos Estados Unidos, por onde passaram alguns dos mais célebres ditadores e torturadores latino-americanos durante o período da Guerra Fria. Todos têm relações íntimas com os diplomatas e oficiais estadunidenses baseados em Tegucigalpa, incluindo o general Romeo Vásquez Velásquez, comandante das Forças Armadas de Honduras até as vésperas do golpe (foi destituído por Zelaya dias antes). Ninguém pode imaginar seriamente que os agentes de CIA em Honduras ignoravam os planos para depor Zelaya. Menos imaginável ainda é a idéia que eles sabiam, mas não informaram a Casa Branca. E mais: o embaixador estadunidense em Honduras, Hugo Llores, é um conhecido agente provocador. Entre outros feitos, ele foi expulso da Bolívia, em setembro de 2008, por sua comprovada participação na tentativa de orquestrar uma guerra civil no país.
A mídia burguesa, para variar um pouco, desinformou sobre as reais motivações do golpe. Ele não aconteceu porque Zelaya pretendia “eternizar-se no poder”, mas por ter cometido o grande pecado de associar Honduras à Alternativa Bolivariana para a América Latina e Caribe (Alba)e ao Petrocaribe. Isto é, aproximou-se do demônio Chávez. Mas, sobretudo, Zelaya anunciou que transformaria a base militar estadunidense de Soto Cano (situada a 30 km de Tegucigalpa) em aeroporto civil, e que faria isso com financiamento venezuelano.
A base de Soto Cano era utilizada pela CIA, ao longo dos anos 1980, como centro de operações contra o governo sandinista da vizinha Nicarágua, e para treinar soldados e oficiais que lutavam na guerra civil de El Salvador. A Casa Branca não admitiu a hipótese de perder esse “porta-aviões”, especialmente quando sabia que teria que fechar, em setembro, a sua base militar em Manta, na costa do Pacífico equatoriana, por determinação do presidente Rafael Corrêa. Por uma incrível coincidência, a retirada das tropas estadunidenses do Equador foi, praticamente, simultânea à assinatura do acordo com a Colômbia e para instalar sete bases militares em plena região amazônica e... ao golpe em Honduras.
Mas a operação, em seu conjunto, fracassou. O presidente “eleito” Lobo Sosa carece de qualquer legitimidade. É óbvio, para quem quer ver, que nada ficou resolvido em Honduras. E isso acontece num momento em que o governo Obama experimenta o inferno no Afeganistão, onde também acaba de tentar, sem conseguir, organizar uma farsa eleitoral para assegurar no poder a permanência do presidente Hamid Karzai, um ex-agente da CIA. A fraude eleitoral foi tão escandalosa, que mesmo a revista Economistqualificou como inaceitável a “reeleição” de Karzai. Com um pequeno detalhe: a guerra do Afeganistão já envolve o Paquistão, país com armamento nuclear e com uma população cada vez mais convencida de que os Estados Unidos devem retirar suas tropas da região. Não por acaso, a Guerra do Afeganistão já é chamada de “o Vietnã de Obama”.
Em Honduras, como no Afeganistão, Barack Obama, laureado com o Nobel da Paz (reflexo do consenso capitalista em torno de sua liderança), mostra sua verdadeira face. Cai rapidamente a máscara, mas a América Latina não mais se curva docilmente aos ianques da Casa Branca (exceto pelos fiéis escudeiros capitaneados por Álvaro Uribe). Evidencia-se a crise de hegemonia dos Estados Unidos, novos conflitos se preparam. A resistência do povo hondurenho mostra o caminho. Fonte: Jornal Brasil de Fato
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