Manifestantes protestam em frente a uma usina nuclear da cidade de Kleinensiel, na Alemanha
De acordo com especialistas da Global Zero, dos quais nós somos fundadores, os gastos estão aumentando mesmo enquanto os governos em todo o mundo são obrigados a cortar programas que impulsionariam nossas economias e melhorariam nossa qualidade de vida global.
Recentemente, um número crescente de líderes e especialistas em segurança nacional, muitos dos quais atuaram em posições de responsabilidade para arsenais e políticas nucleares, têm dito a qualquer um que quiser ouvir que as armas nucleares, seja qual for o valor que elas tiveram durante a Guerra Fria, não respondem às ameaças de segurança atuais e, na verdade, são uma catástrofe esperando para acontecer – podendo ser usadas num conflito no sul da Ásia ou outro lugar, lançadas acidentalmente ou por um ataque cibernético, ou adquiridas por terroristas. Este grupo inclui nomes importantes da Guerra Fria como George Schultz, secretário de estado do governo do presidente dos EUA Ronald Reagan, o negociador veterano de armas nucleares Richard Burt, e Malcom Rifkind, ministro de gabinete da primeira-ministra Margaret Thatcher da Inglaterra.
Nós concordamos, e agora sabemos que, além de representarem uma grande ameaça de segurança para o mundo, esses arsenais estão falindo o nosso futuro.
As oportunidades econômicas sacrificadas por este desperdício de dinheiro em relíquias da Guerra Fria são enormes. Se este US$ 1 trilhão gasto em arsenal nuclear ao longo dos próximos dez anos fosse, em vez disso, investido em pesquisa, educação, companhias de tecnologia de ponta e treinamento de emprego para o século 21, esta quantia enorme ajudaria a levantar a economia mundial para fora da areia movediça e a melhorar os padrões de vida globais. Nossas prioridades equivocadas estão sufocando a inovação e o empreendedorismo, a maior fonte de dinamismo na economia mundial.
Estamos comprometidos com importantes políticas e investimentos ambientais, e estamos consternados com o fato de que, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance, os gastos anuais dos governos com armas nucleares no mundo é atualmente três vezes maior do que todos os gastos anuais, feitos por governos e corporações juntos, em pesquisa e desenvolvimento de energia limpa.
O país cujo arsenal nuclear está crescendo mais rápido, o Paquistão, também é um dos menos capazes de pagar por ele. O estonteante crescimento nuclear do Paquistão, que envolveu a construção de fábricas de plutônio multibilionárias, mais do que dobrará seu arsenal na próxima década, de 125 armas para mais de 250, de acordo com o Instituto de Segurança Mundial. Ele ultrapassará o Reino Unido, a França e outros para chegar ao terceiro maior arsenal do mundo.
Essas armas, localizadas numa região praguejada por extremistas violentos, estão acabando com os recursos para o desenvolvimento econômico do país, acelerando assim a deterioração do tecido social e da governança. O PIB do Paquistão per capita é de menos de US$ 3 mil e sua taxa de desemprego é de 15%. O país mal pode pagar sua aventura nuclear.
Em reposta, informa o Instituto de Segurança Mundial, a Índia está expandindo seu arsenal de 25 armas para 100 nos próximos dez anos. Seu PIB per capita está abaixo de US$ 3.500.
As prioridades equivocadas que levam governos de países em desenvolvimento a fazer investimentos improdutivos nessas armas autodestruidoras são preocupantes e provocam ansiedade. O mais ofensivo deles, obviamente, é a Coreia do Norte, um país empobrecida com armas nucleares novas, mas um PIB per capita de menos de US$ 2 mil. A Coreia do Norte está no último lugar da lista de desastres econômicos do mundo, produzindo novas armas enquanto seus cidadãos passam fome.
As politicas de países nucleares ricos também desafiam o bom senso. Vinte anos depois da queda da União Soviética e do fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e a Rússia continuam a manter milhares de armas nucleares, numa postura perigosa e suscetível a acidentes de alerta para lançamento. Nossos países, o Reino Unido e os Estados Unidos, estão gastando cerca de US$ 60 bilhões por ano em armas e estratégia ultrapassadas, de acordo com uma análise da Global Zero baseada em métodos desenvolvidos pela Brookings Institution.
Nossos governos estão agora considerando enormes investimentos nessas armas anacrônicas, enquanto cortam verbas da educação, criação de empregos, desenvolvimento de energia limpa e mais.
O Reino Unido precisa decidir em 2016 se vai gastar até US$ 40 bilhões – a última estimativa do ministro de Defesa Liam Fox – para construir quatro novos submarinos de mísseis nucleares para substituir sua frota antiga. Os Estados Unidos gastarão quase US$ 1 bilhão este ano em componentes tecnológicos de longo prazo para um programa de substituição do submarino Trident que custará aos contribuintes norte-americanos mais de US$ 100 bilhões para ser construído, enquanto produzem uma frota que, de acordo com a Associação de Controle de Armas, funcionará de 2030 a 2080!
A maioria dos países – 183, para ser exato – não têm armas nucleares. Até agora, apenas nove continuam apegados a elas de forma irracional e autodestrutiva, continuando a gastar recursos preciosos em armas cujos riscos de segurança excedem em muito seus supostos benefícios.
As notícias sobre o enorme custo financeiro das armas nucleares acrescentam urgência à Cúpula Global Zero que aconteceu em 22 e 23 de junho em Londres. Na cúpula, líderes internacionais e especialistas delinearam uma agenda para colocar todos os países detentores de armas nucleares na mesma mesa pela primeira vez na história e começar a negociar reduções globais do armamento nuclear, que levariam por fim à sua eliminação.
Durante a cúpula, cidadãos do mundo todo lançaram uma campanha pedindo que os governos cortem as armas nucleares em vez das coisas das quais de fato precisamos, como criação de empregos, segurança pública e educação.
É imperativo que os governos ouçam ao que esses especialistas em segurança nacional e cidadãos estão dizendo. As armas nucleares prejudicam a estabilidade global, e seu custo inflige um imenso ônus sobre a economia mundial e a qualidade de vida de nossos cidadãos.
Os déficits são um desafio severo, mas eles também são uma oportunidade de reexaminar prioridades e pensar novamente sobre velhas práticas. Se os governos olharem para os fatos e aplicarem o senso comum, esperamos que eles prefiram se livrar das armas do passado, em vez de cortar investimentos essenciais em nossa recuperação econômica e nosso futuro.
(Richard Branson é fundador do Virgin Group. Jeff Skoll, primeiro presidente do eBay, é fundador e presidente do Skoll Global Threats Fund e Skoll Foundation.)
Tradução: Eloise De Vylder
Fonte: http://www.controversia.com.br