O dia 11 de março nunca mais será o mesmo para o Japão. Esta terça marca um ano do terremoto e tsunami que devastaram o nordeste do país. Em meio às cerimônias de homenagem aos cerca de 20 mil mortos e desaparecidos, os japoneses ainda lutam para reconstruir comunidades inteiras e tratar feridas que não cicatrizaram.
Hoje, um dos piores legados do desastre na usina nuclear de Fukushima talvez seja a geração do ?não pode brincar lá fora?. Três anos após a catástrofe, jovens e crianças são forçados a passar a maior parte do seu tempo entre quatro paredes, devido aos níveis de radiação no exterior.
A restrição se aplica a províncias próximas à Fukushima, que permanece isolada. Em Koriyama, que fica a 55 km da usina em ruínas, a recomendação é de que crianças de até dois anos de idade não gastem mais do que 15 minutos fora todos os dias. Aqueles com idade entre três e cinco devem limitar seu tempo ao ar livre a no máximo 30 minutos.
Os efeitos de uma infância limitada em seus primeiros anos já começam a aparecer. Falta de coordenação (como dificuldade para andar de bicicleta), estresse, desânimo e temperamentos mais explosivos são algumas das alterações que preocupam os educadores da região.
Mitsuhiro Hiraguri, diretor de um jardim de infância de Koriyama, disse, em entrevista à agência Reuters, que as crianças ?não estão motivadas para fazer qualquer coisa? e que andam muito apreensivas. ?Há crianças que estão com muito medo. Elas perguntam antes de comer qualquer coisa: ?isso tem a radiação?? e nós temos que dizer que não tem problema, pode comer?.
Enquanto os novos problemas de saúde relacionados com a inatividade são motivo de preocupação, o medo do câncer permanece. O iodo radioativo liberado pela usina durante os acidentes nucleares pode se acumular nas glândulas tiroides das crianças e aumentar os ricos de desenvolver a doença.
Sob a orientação de Universidade Médica de Fukushima, as autoridades de saúde locais já realizaram testes em 254.000 de 375.000 crianças e adolescentes de Fukushima.
Segundo o jornal britânico The Guardian, no mês passado, o número de casos confirmados e suspeitos de câncer da tiroide entre menores de 18 anos subiu para 75, em comparação com os 59 no final de setembro do ano passado.
Do total atual, 33 casos foram confirmados como câncer. Para as autoridades médicas japonesas ainda não é possível fazer uma associação direta entre os casos de câncer e o desastre nuclear.
São necessárias mais análises, dizem eles, uma vez que o aumento na incidência da doença também pode ser resultado de um regime de testes sem precedentes e em grande escala, utilizando equipamentos médicos de ponta.
O câncer de tireoide normalmente afeta uma em cada dois milhões de pessoas entre 10 e 14 anos no Japão, uma taxa muito menor do que o observado em Fukushima, embora os testes lá se aplicam a pessoas com idade até 18 anos.
Todos concordam, no entanto, que o mais importante é detectar os cistos na tireoide o mais cedo. Quando encontrado nos primeiros estágios, esse câncer é quase sempre tratado com sucesso.
Antes de Fukushima, no pior desastre nuclear até então registrado, em 1986, em Chernobyl, mais de 6.000 casos de câncer da tireoide entre crianças e adolescentes que vivem na Ucrânia, Rússia e Belarus haviam sido notificados até 2005, segundo estimativas do Comitê da ONU sobre os Efeitos da Radiação Atômica.
Além de ter sido pior em termos de contaminação radioativa que Fukushima, em Chernobyl nenhuma tentativa foi feita para evitar que as crianças bebessem leite ou comessem vegetais e leguminosas contaminados, o que os deixou vulneráveis à ingestão de quantidades perigosas do radionuclídeo iodo-131, uma causa reconhecida do câncer de tireoide.
(Fonte: Exame.com)
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