CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVA DE CRISE
Geografia

CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVA DE CRISE



A gigantesca massa de recursos que se movimenta na área financeira, praticamente toda desregulamentada, se comporta hoje, como destacou o Financial Times (apud Chesnais, 1996, p. 238), como polícia, júri e juiz das atividades econômicas mundiais. Tem a capacidade de tornar inócua a política monetária dos Bancos Centrais tanto dos países centrais quando dos países periféricos que se envolveram na armadilha da globalização financeira, e ainda interferir na política macroeconômica das nações, afetando o nível da atividade econômica, o investimento produtivo, as políticas sociais e o mercado de trabalho.

A globalização financeira representou para os povos em geral e para as nações periféricas em particular uma enorme transferência de recursos do setor público para o capital financeiro especulativo, pçla privatização de grandes empresas públicas e sua venda a preço irrisórios para o setor privado, ampliando assim a desnacionalização nos países da periferia, e o aprisionamento das empresas produtivas na lógica da especulação. O domínio do capital especulativo provocou também a desaceleração do ritmo de crescimento da economia mundial, resultando na queda dos salários e no empobrecimento geral da população. Entre 1966 e 1973 o crescimento médio foi de 5,2%, enquanto que entre 1991 e 1999 foi de apenas 2,8% (Beinstein, 2001).

Um dos aspectos mais evidentes da globalização financeira é o fato de que, quanto mais aumentam os negócios especulativos, mais cresce a criatividade e a agressividade dos mercados no sentido do auto-crescimento do seu capital. Um dos principais fatores que explica esse processo é a rentabilidade rápida e elevada que as instituições obtêm em seus negócios. Enquanto a atividade produtiva leva um tempo maior para a maturação e retorno do investimento, um especulador hábil pode ganhar em um dia o mesmo que ganharia em um ano no setor produtivo.

Como pudemos também constatar, a massa de recursos na esfera financeira atingia em 2005 cerca de US$118 trilhões, mais de duas vezes o PIB mundial, e os negócios nessa órbita continuam multiplicando-se como cogumelos após a chuva. No entanto, a ousadia especulativa traz consigo alguns elementos de grande fragilidade: a maior parte desses recursos que circula na órbita especulativa não tem lastro na economia real, são puros símbolos escriturais, fictícios, que crescem extraordinariamente na euforia e se esterilizam com uma velocidade ainda maior nos períodos de crise. Além disso, a interdependência dos mercados e a velocidade das comunicações têm a capacidade de irradiar com extraordinária rapidez as crises de uma praça financeira para outra, podendo levar a uma onda de pânico nas finanças globias, fato que viria acelerar ainda mais uma eventual crise financeira.

Essa dinâmica do capital financeiro especulativo se assemelha à lenda de Ícaro, mito grego, que buscava a qualquer custo alcançar o sol, mas quanto mais ele se aproximava, mais pr´poximo ficava da tragédia. Voando com asas de cera, à medida em que se aproximava do sol suas asas se derretiam, até o ponto em que se romperam e o nosso Ícaro desabou no mar...

O deslocamento sem precedentes entre a órbita financeira e a esfera produtiva levará inevitavelmente a uma crise profunda do capital, até mesmo porque a massa de mais-valia criada globalmente no sistema produtivo é insuficiente para remunerar as necessidades de rentabilidade da especulação financeira. Portanto, quanto mais capitais fictícios ampliarem seus negócios na esfera especulativa, mais débil e mais próximos da crise estará o sistema capitalista. Em outras palavras há uma crise sistêmica em curso, como já pode ser observado desde o crash de 1987.

Geralmente, a multiplicidade extraordinária de informações que recebemos, tende a criar nas pessoas uma preocupação fragmentada do mundo, mas se refletirmos cm mais cautela e agregarmos os fatos relevantes da conjuntura poderemos ver que a crise geral do sistema passou a ter não só maior consistência, como sua gravidade vem se acentuando. O primeiro grande sinal vermelho foi a crise do México em 1994. Como se tratava de um país em que os bancos dos Estados Unidos estavam bastante expostos e ainda pelo fato de ser fronteira estadunidense, não foi difícil socorrê-lo ou mais precisamente os especuladores que por lá se aventuraram. Posteriormente veio a crise asiática, agora envolvendo não mais um país, mas uma região inteira. Esta crise contaminou posteriormente a Rússia e levou pânico aos mercados financeiros mundiais. A seguir podemos registar a crise cambial no Brasil e o colapso do Plano Real, além da derrocada da Argentina que, em tremos prospectivos pode configurar um cenário antecipado da crise econoômica Global. Posteriormente, ocorreu a crise da chamada nova economia, agora no coração do sistema, na qual foram esterilizados cerca de US$ 9 trilhões. Estes são indícios de uma grande instabilidade sistêmica e que apontam no sentido de que hoje o grande capital está muito mais em perigo que em 1929.

O processo de financeirização da economia ou instituição do rentismo é uma expressão degenerada da acumulação de capitais e demonstra mais uma vez o parasitismo da burguesia. A ?valorização? da riqueza pela via financeira cria contradições entre a velocidade de expansão da órbita financeira e o crescimento do setor produtivo. Como sabemos, a defesa da riqueza pela via financeira é uma aventura sem futuro, pois haverá um momento da ruptura dessa valorização artificial, de forma a compatibilizá-la com a economia real, o que deverá trazer dramáticas consequências para os especuladores e para a ordem econômica capitalista. (Costa, 1993, pp. 14-15).

Textos relacionados
Aquilo que nos Devora
Os Apologistas da Globalização
Vozes contra a Globalização

TEXTO RETIRADO DO LIVRO
COSTA, Edmilson, A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo. Editora Expressão Popular ? São Paulo - 2008





- Bric
Na atual época da globalização, há uma interligação entre as economias de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes. Esta dinâmica gera situação...

- Nota: Os Bancos Privados Não Têm Mais Saída... Vão Também Baixar Os Juros.
Depois da polêmica criada na discussão sobre redução do custo dos empréstimos, os bancos privados já indicam que vão aderir à rodada de corte nos juros iniciada pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Eles esperam, no entanto, a...

- Mantega:crise Já Afeta Emergentes, Situação Global Está Piorando... É A Crise Do Captalismo Globalizado, Naturalmente...
O ministro da Fazenda, Guido Mantega (leia AQUI), disse nesta quarta-feira que já começa a haver contágio da crise internacional aos países emergentes, e que a crise está piorando. Em audiência na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara...

- A Crise E O Clima
O sistema econômico e o sistema climático globais interagem e não podem ser separados por Sérgio Abranches Há mais conexões entre a crise financeira global e a mudança climática do que aparece nos jornais, além do fato de ambas serem fenômenos...

- Os Impactos Da GlobalizaÇÃo Financeira
Controlados pelos rentistas (especuladores)A globalização financeira tem produzido um conjunto de fenômenos profundamente nocivos para a população em geral e, especialmente, para as nações da periferia e para seus povos. Em todos os países em...



Geografia








.