Como o ocidente foi perfurado
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Como o ocidente foi perfurado



Areias canadenses


Em 1999, o Canadá ultrapassou a Arábia Saudita como a maior fonte de importações de petróleo dos Estados Unidos e, atualmente, metade da produção de petróleo do país provém das chamadas areias petrolíferas ou betuminosas de Alberta: uma forma de petróleo encontrada numa mistura de areia, argila e betume que é explorada em minas ou extraída pelo bombeamento de vapor em poços. A Agência de Informações Energéticas do Departamento de Energia dos EUA prevê que a produção das areias petrolíferas do Canadá dobrará nos próximos cinco anos, acrescentando 1,3 milhão de barris por dia ao total. Mas a produção de petróleo de areias betuminosas é um negócio complexo e poluente; segundo a Agência de Proteção Ambiental americana, o processo de extração produz 82% mais emissões que a extração de petróleo convencional. Autoridades e executivos de companhias petrolíferas canadenses argumentaram que esses temores são exagerados - e, de fato, cálculos externos confiáveis encontraram impactos bem menores, mais próximos de 17% maiores que os do petróleo convencional. Os defensores das areias petrolíferas viram uma abertura, porém, no perpétuo nervosismo dos americanos sobre sua dependência de regimes autocráticos (bem como do Oriente Médio) e têm defendido cada vez mais o petróleo canadense como uma alternativa ao "petróleo de conflito". A proposta de construção do oleoduto Keystone XL, de 2,7 mil quilômetros, ligando as areias betuminosas de Alberta às refinarias do Golfo do México tornou-se o tema de uma batalha indireta sobre a sabedoria do desenvolvimento das areias betuminosas. Em junho, o Departamento dos Transportes dos EUA ordenou que um oleoduto irmão menor suspendesse as operações após uma série de vazamentos. Mas as companhias envolvidas no projeto dizem que vão exportar o petróleo, com ou sem o oleoduto.

Pré-sal brasileiro

Em agosto de 2005, geólogos brasileiros descobriram os primeiros traços de petróleo na Bacia de Santos. O petróleo está no que se conhece como uma reserva de pré-sal: um depósito localizado a uma profundidade de até 7 quilômetros, diretamente abaixo de uma camada de sal comprimido. Isso significa perfuração de petróleo no que ela tem de mais complexa, só executável na última década e graças a avanços na tecnologia, e somente com a expertise das maiores companhias petrolíferas do mundo (que mostraram muito interesse). Mas a recompensa potencial é imensa. O maior campo conhecido na Bacia de Santos - batizado como Lula em 2010 - é a descoberta de petróleo mais significativa na América Latina em muitas décadas. Geólogos acreditam que a bacia como um todo - ela própria apenas uma de várias perspectivas promissoras no pré-sal - poderia conter até 50 bilhões de barris de petróleo e gás, o suficiente para situar firmemente o Brasil entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo. A produção atual (que ainda está no estágio de teste) é uma relativa bagatela - 36 mil barris por dia -, mas a Petrobrás vai investir quase US$ 33 bilhões em projetos do pré-sal nos próximos cinco anos, em antecipação da fartura que virá.

Golfo do México

Acredita-se que haja uma fartura de hidrocarbonetos igual a todo o petróleo da Noruega e o gás natural do Canadá juntos embaixo das águas americanas no Golfo do México - e o desastre catastrófico com a plataforma Deepwater Horizon no ano passado provavelmente não será mais que um pequeno empecilho na corrida para explorá-la. O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, impôs uma moratória à perfuração em águas profundas depois que a explosão da plataforma provocou um vazamento de três meses e 4,9 milhões de barris - o pior da história americana -, mas a proibição foi levantada nesta primavera americana após a criação de novos regulamentos. Embora algumas áreas permaneçam interditadas, novas permissões começaram a ser concedidas em fevereiro. Até a BP, a companhia responsável pelo vazamento, está voltando ao jogo.

Petróleo de xisto

Foi o gás natural que originalmente provocou o interesse das empresas de petróleo pela formação de xisto de Eagle Ford, no sul do Texas. Mas, nos dois últimos anos, à medida que os preços do petróleo subiam gradualmente aos picos do começo de 2008, os produtores voltaram sua atenção para as reservas de petróleo de xisto no Estado da Estrela Solitária (Texas), que é extraído de formações rochosas com a polêmica técnica do fraturamento hidráulico. O Eagle Ford está produzindo atualmente 71 mil barris diários, mas a produção deve quintuplicar até 2015. Ainda mais extraordinária é a formação de xisto de Bakken, no subsolo de Dakota do Norte, Montana e Saskatchewan, que a US Geological Survey acredita que contenha entre 3 bilhões e 4,3 bilhões de barris de petróleo recuperável - 25 vezes o que geólogos acreditavam há uma década e meia. Há também o xisto de Niobrara, no Wyoming, que contém estimados 2 bilhões de barris de petróleo.

Xisto betuminoso

Geólogos sabem como extrair petróleo de xisto betuminoso (curiosamente, não é a mesma coisa que petróleo de xisto; o primeiro é o petróleo retido nas formações de rocha densas, mas porosas; o segundo é o petróleo realmente encontrado na própria rocha) desde 1830. O problema tem sido o custo. As companhias de petróleo tentaram fazê-lo no Colorado nos anos 70 e 80, mas o esforço terminou num desperdício multibilionário. Os preços do petróleo intermitentemente altos da última década, porém, trouxeram gigantes do petróleo, como a Shell, de volta ao que seria a maior reserva de petróleo do mundo, se ela puder descobrir como explorá-la lucrativamente. Os recursos de xisto betuminoso de Mountain West são três vezes maiores que as reservas de petróleo provadas da Arábia Saudita. Os esforços passados para obter o xisto betuminoso da região envolveram a mineração a céu aberto, uma técnica que se mostrou ambientalmente destrutiva e proibitivamente cara. Desta vez, o plano ambicioso da Shell envolve realmente aquecer a própria terra para transformar o querogênio - um composto químico incrustado na rocha - em petróleo e gás passíveis de extração. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Jornal O Estado de S.Paulo




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