Geografia
Brasil completa um ano de desrespeito à Corte da OEA sobre Guerrilha do Araguaia
 
Condenado em 2010, o país tinha até esta semana para  investigar os responsáveis pelos homicídios da ditadura militar na  região, nos anos 70, e entregar os restos mortais dos desaparecidos aos  familiares. Buscas seguem infrutíferas e Campanha Cumpra-se faz vigília  para cobrar respostas da presidenta Dilma Rousseff.
 "O Exército continua  nos torturando ao não nos entregar esses corpos", afirma Laura Petit,  que perdeu três irmãos no Araguaia. 
Por Bia Barbosa
                                   SÃO PAULO - No final de 1973, o ex-estudante  de engenharia Jaime Petit da Silva foi metralhado pelo Exército  brasileiro numa cabana no meio da mata, na região do Araguaia, na divisa  entre os estados do Pará, Maranhão e, na época, Goiás (hoje Tocantins).  Os disparos foram tantos e tão intensos que a chopana pegou fogo. Do  lado de dentro, um homem magro, doente, sozinho, desarmado - o que  desmonta a tese de confronto propagada pelos militares. 
Meses  depois, em abril de 1974, o irmão mais velho de Jaime, Lúcio Petit da  Silva, também morreu no Araguaia. Feito prisioneiro com outros dois  companheiros do PCdoB, ele foi visto por moradores do município de São  Domingos sendo levado de helicóptero para a base militar de São  Raimundo. Em 2001, sua irmã Laura, acompanhando uma diligência do  Ministério Público Federal à região, ouviu da boca de um mateiro, que  tinha trabalhado muitos anos para o Exército, que Lúcio tinha tido sua  cabeça cortada para ser levada ao comandante da base. Ainda segundo o  mateiro, Lúcio tinha documentos de identidade verdadeiros. O Exército  brasileiro sabia, portanto, exatamente, quem ele era. Seus restos  mortais, e também os do irmão Jaime, nunca foram entregues à família.
Esta  semana, vestindo uma camiseta com a foto dos irmãos mortos e  desaparecidos, onde se lia a frase "A única luta que se perde é a que se  abandona", Laura foi mais uma vez para as ruas cobrar do Estado  brasileiro o direito de enterrar seus entes queridos. Ao lado de outros  familiares de vítimas da ditadura militar e ex-presos políticos, Laura  Petit participou de um ato pelo cumprimento da sentença da Corte  Interamericana de Direitos Humanos da OEA condenando o Brasil a reparar  as famílias dos mortos da Guerrilha do Araguaia. Nesta quarta-feira, dia  14 de dezembro, venceu o prazo para que o país cumprisse os doze pontos  da sentença, mas praticamente nada saiu do papel até hoje.
Entre  as determinações da Corte da Organização dos Estados Americanos estão a  investigação e  punição dos responsáveis pelas torturas, homicídios e  desaparecimentos forçados durante a Guerrilha do Araguaia; a  identificação e entrega dos restos mortais dos desaparecidos aos   familiares; o acesso, sistematização e publicação de documentos sobre a  guerrilha em poder do Estado; e a implementação de programas de educação  em direitos humanos permanentes dentro das Forças Armadas. A sentença  diz ainda a Lei de Anistia de 1979 está em desacordo com a jurisdição  internacional de direitos humanos, pois impede que perpetradores da  ditadura sejam julgados, e que o Brasil deveria alterar sua legislação  para permitir sua punição.
O processo é resultado de uma ação  civil movida internamente em 1982 por 22 famílias de presos políticos do  Araguaia. Eles simplesmente queriam saber o paradeiro de seus filhos,  receber seus restos mortais e compreender as condições em que morreram.  Em 2003, mais de 20 anos depois, a Justiça brasileira condenou o Estado a  abrir os arquivos das Forças Armadas para informar, em 120 dias, o  local do sepultamento desses militantes. 
O governo Lula, no  entanto, recorreu. Em 2007, esgotaram-se os recursos legais, mas o país,  condenado, ignorou a sentença da Justiça. As famílias  recorreram à  Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, cuja Corte, em 24 de  novembro de 2010, condenou o Estado a cumprir a sentença brasileira de  2003 e expediu essas outras determinações ao país. 
"Mas muito  pouco foi feito. Reconhecemos o esforço das buscas no Araguaia, mas elas  tem sido infrutíferas, e não bastam. Não é possível o governo seguir  achando que esta decisão da OEA é uma ingerência sobre o país. O Brasil  assinou a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, que reconhece a  Corte. Agora deve cumprir suas decisões. É um atentado aos direitos  humanos o que o governo Dilma está praticando", criticou Marcelo Zelic,  vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e um dos coordenadores da  Campanha Cumpra-se, que organizou o ato esta semana em São Paulo e  também nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e  Rio Grande do Sul. 
Omissão governamental
A campanha  pretende estar em estado de vigília permanente pelo cumprimento da  sentença da OEA, com a organização de protestos sempre aos dias 14 de  cada mês. Um pedido de audiência com a Presidenta Dilma foi protocolado  no escritório da Presidência da República em São Paulo. Segundo o Centro  de Justiça e Direito Internacional (Cejil), o Grupo Tortura Nunca Mais  do Rio de Janeiro e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos  Políticos, que ingressaram na OEA em nome dos familiares, até agora o  Executivo não chamou os peticionários para conversar sobre o cumprimento  dos doze pontos apresentados pela Corte.
"O governo Lula  publicou um livro - resultado do trabalho que os próprios familiares  tinham feito - e achou que isso bastava. Teve a coragem de pedir o  arquivamento da sentença. Reconheceu oficialmente o erro do Estado  brasileiro, mas não deu um passo além para esclarecer as circunstâncias  das mortes e desaparecimentos forçados no Araguaia", criticou Laura  Petit. "Durante cerca de dois anos, as buscas foram feitas pelo  Exército, ou seja, aqueles que ocultaram os corpos eram os responsáveis  por "procurá-los". Pedimos para o Ministério Público acompanhar, para  evitar que provas fossem destruídas, mas só este ano os procuradores  foram autorizados. Outro problema é que as buscas são restritas ao  cemitério de Xambioá, onde o número de corpos é muito pequeno",  explicou.
Xambioá, no estado do Tocantins, foi o destino dos  guerrilheiros mortos na primeira campanha do Exército contra a  guerrilha, em 1972. Lá foi enterrada Maria Lúcia Petit da Silva, a  terceira irmã que Laura perdeu para a ditadura. Maria Lúcia foi dada  como desaparecida por quase duas décadas. Seus restos mortais foram  localizados em 1991 no cemitério de Xambioá, envoltos num tecido de  pára-quedas, e identificados por exame de DNA em 1996, após cinco anos  de pesquisas da Unicamp. Ela é uma das raras vítimas do Araguaia já  localizadas.
Já os guerrilheiros mortos em 1973 e 1974, como  Jaime e Lúcio, desapareceram. "O Exército diz que os arquivos foram  queimados e por isso eles não sabem onde estão os outros. Mas sabemos  que há leis inclusive para destruir arquivos mortos. E há ainda os  arquivos vivos, que são os militares. Figuras como [Major] Curió e Lício  [Maciel], que foram agraciados com a Medalha do Pacificador, deveriam  ser os primeiros a ser ouvidos", acredita Laura. "Mas o Exército  continua em guerra conosco. Seguem nos torturando porque não entregam os  corpos de nossos familiares", acrescentou. 
Laura militou no  movimento estudantil. Estudava no Centro Maria Antônia. Como havia se  casado em 1968 e tinha que ajudar a mãe, viúva, a cuidar de um irmão  mais novo, não foi para o Araguaia com Lúcio, Jaime e Maria Lúcia. Se  emociona ao dizer: "Fiquei. Para contar essa história".  Xambioá, na  língua indígena do povo de mesmo nome, significa pássaro veloz.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/ 
 
  
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