Batalha pela água nas megacidades
Geografia

Batalha pela água nas megacidades


Batalha pela água nas megacidades
Marlucio Luna

Durante o 2º Fórum Mundial da Água, realizado em 2000 na cidade holandesa de Haia, o então diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Klaus Toepfer, fez um alerta: "A grande batalha pela conservação da água será ganha ou perdida nas megacidades do mundo". Em todo o mundo há 23 dessas megacidades, com 10 milhões de habitantes em cada. Toepfer expressou há três anos uma preocupação que aflige urbanistas, sociólogos, políticos, demógrafos e técnicos das áreas governamentais. Aglomerações urbanas inchadas a este ponto fazem com que a tarefa de levar água a casas, indústrias, lojas e estabelecimentos do setor de serviços represente gastos bilionários e, o que é pior, desperdício de recursos hídricos.

O homem, desde que deixou de ser nômade, procurou se fixar em áreas onde houvesse oferta de água. A própria figura da cidade está intimamente ligada à disponibilidade de recursos hídricos, seja para consumo direto da população, seja para atividades econômicas. Com o tempo, as cidades cresceram em tamanho e em população - o que levou a busca por água a regiões cada vez mais distantes. Há ainda as conseqüências da urbanização sobre os mananciais. O desmatamento e a poluição de rios, lagos, lagoas e fontes afetam a qualidade e o volume dos recursos hídricos.

A estrutura das megacidades favorece ainda o desperdício. Grandes redes de abastecimento de água e coleta de esgoto necessitam altos investimentos em manutenção de tubulações, estações de tratamento, galerias e uma série de elementos que constituem o sistema de saneamento básico. A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes) calcula que nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo - dois exemplos de megacidades no Brasil - as perdas na distribuição de água cheguem a 50%. O desperdício tem duas vertentes. A primeira é o rompimento das tubulações que levam a água das estações de tratamento até o consumidor - os famosos vazamentos nas ruas. A segunda se refere aos sistemas hidráulicos de residências, indústrias e lojas, cuja falta de manutenção literalmente faz a água escorrer pelos ralos.

Um dado característico das megacidades é a utilização de rios, lagoas, lagos e litoral como "lixeiras". A falta de destinação adequada do lixo e a ausência de redes eficazes de saneamento básico transformaram ecossistemas aquáticos em depósitos de dejetos. No caso dos mananciais de água doce, a contaminação compromete a qualidade de vida da população, expondo moradores a doenças infecto-contagiosas, além da própria ameaça de escassez de água.

De acordo com o Pnuma, a urbanização nas megacidades precisa ser repensada. A impermeabilização do solo por calçamento ou asfaltamento impede que a chuva realimente os depósitos subterrâneos de água. A chuva, em vez de ser absorvida pelo terreno, é lançada nas galerias pluviais e termina no mar. Outra sugestão do programa das Nações Unidas diz respeito à necessidade de investimento pesado em saneamento básico e tratamento de esgotos como forma de preservar as reservas de água.

Já os urbanistas destacam a importância de uma nova forma de gerenciar as megacidades. Segundo eles, os governos devem estimular a participação das comunidades nos processos de tomada de decisões sobre políticas públicas. Um exemplo citado é a ampliação dos serviços de saneamento básico. O estabelecimento de parcerias entre Poder Público e população durante a realização das obras reforça os resultados no campo da preservação ambiental e do uso racional dos recursos hídricos.


Marlucio Luna é editor do projeto Século XX1.




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