A investigação científica comparou amostras do solo coletadas há quatro anos com outras de dias após o incêndio que atingiu a estação e a destruiu completamente.
Segundo Carlos Schaefer, da UFV, a coleta dos sedimentos foi feita exatamente nos mesmos pontos nos dois períodos e os níveis de metais pesados encontrados eram muito altos. ?Isso era uma coisa esperada em função do que aconteceu ali. Queimou toda uma estação e os materiais plásticos e inflamáveis viraram cinza no solo?, explica.
Risco à biodiversidade ? A maior preocupação dos pesquisadores refere-se ao risco de infiltração de materiais tóxicos decompostos em camadas mais fundas do solo e dos sedimentos marinhos, podendo impactar a biodiversidade do local.
?A água [na Antártica] é muito fria e os sedimentos têm uma capacidade de captura grande. É possível que [o solo contaminado] se deposite no fundo da água e sejam incorporado à lama?, disse.
Ele não descarta a hipótese de contaminação de animais. ?Mas é preciso realizar ensaios toxicológicos. Pode ser que não afetem nada, mas são metais pesados?, disse.
O estudo conclui que há necessidade de realizar um procedimento de raspagem do solo para que os contaminantes sejam removidos de forma eficaz. Schaefer disse ainda que medidas de remediação já estão previstas para acontecer no local e, segundo ele, a remoção rápida do material reduz a contaminação da área marinha da Baía do Almirantado, onde fica a estação. ?Há expectativa de deixar os níveis de poluição na área semelhantes aos existentes antes do incêndio?.
A limpeza de acidentes ocorridos na Antártica, mesmo os causados por particulares, são de responsabilidade do governo brasileiro, sob risco de sanções dentro do Tratado de Madri ? acordo internacional para preservação do continente e sua exploração científica, caso haja o descumprimento da regra.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, ainda não é possível dizer qual será a técnica de limpeza a ser utilizada na área onde estava instalada a estação científica. Sobre o estudo, o MMA informou que ?não tem conhecimento? do conteúdo da pesquisa.
Técnicos analisam estação na Antártica ? Entre o dia 3 e 12 de fevereiro, o G1 acompanhou expedição da Marinha à Antártica, que também levou pesquisadores e técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), órgão de São Paulo que monitora atividades geradoras de poluição.
Eles são responsáveis por analisar o andamento da retirada dos destroços da estação científica, verificar os danos causados pelo incêndio e qual tipo de contaminação a área sofreu. A partir dessas informações, serão definidas formas de remediar a área.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a análise de impacto ambiental deve ser apresentada a outros países durante reunião internacional do Tratado da Antártica, que acontecerá em maio em Bruxelas, na Bélgica.
Desmonte ? A Marinha tem que terminar a limpeza dos destroços até o fim de março, quando começa o inverno antártico. O incêndio que destruiu boa parte da base matou dois militares.
Mais de 700 toneladas de aço, que formavam os blocos da antiga construção, já foram retiradas e levadas para o navio alemão Germania, que fica na baía aguardando novas remessas de lixo. O material deve ser todo enviado de volta ao Brasil a partir do dia 26 de março, prazo final para término da ?faxina geral?.
A operação de desmonte da estação Comandante Ferraz é custeada por verba de R$ 40 milhões liberada pela presidente Dilma Rousseff do ano passado.
(Fonte: Globo Natureza)