Geografia
Aqüífero Guarani
Descrição do Aqüífero Guarani
O aqüífero Guarani é talvez o maior manancial transfronteiriço de água doce subterrânea no planeta, estendendo-se desde a Bacia Sedimentar do Paraná até a Bacia do Chaco-Paraná. Está localizado no centro-leste da América do Sul, entre 12º e 35º de latitude Sul e 47º e 65º de longitude Oeste, subjacente a quatro países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Tem extensão total aproximada de 1,2 milhões de km2, sendo 840 mil km2 no Brasil, 225,500 mil km2 na Argentina, 71,700 mil km2 no Paraguai e 58.500 km2 no Uruguai. A porção brasileira integra o território de oito Estados: MS (213.200 km2), RS (157.600 km2), SP (155.800 km2), PR (131.300 km2), GO (55.000 km2), MG (51.300 km2), SC (49.200 km2) e MT (26.400 km2). A população atual do domínio de ocorrência do aqüífero é estimada em 15 milhões de habitantes.
O termo aqüífero Guarani é uma denominação unificadora de diferentes formações geológicas que foi dada pelo geólogo uruguaio Danilo Anton em homenagem à grande Nação Guarani, que habitava essa região nos primórdios do período colonial. O aqüífero foi inicialmente denominado de aqüífero gigante do Mercosul, por ocorrer nos quatro países participantes do referido acordo comercial (Araújo e tal.,1995).
O aqüífero se constitui pelo preenchimento de espaços nas rochas (poros e fissuras), convencionalmente denominadas Guarani. As rochas do Guarani constituem-se de um pacote de camadas arenosas depositadas na bacia geológica do Paraná, entre 245 e 144 milhões de atrás. A espessura das camadas varia de 50 a 800 metros, estando situadas em profundidades que podem atingir até 1800 metros. Em decorrência do gradiente geotérmico, as águas do aqüífero podem atingir temperaturas relativamente elevadas, em geral entre 50 e 85ºC.
O pacote camadas que constitui o aqüífero Guarani tem arquitetura arqueada para baixo como resultado da pressão das rochas sobrejacentes, como os espessos derrames de lavas basálticas oriundos da ativação de falhas, arcos regionais e soerguimento de bordas, ocorridos na bacia sedimentar do Paraná. As formações geológicas do Guarani congregam sedimentos fluvio-lacustres do período Triássico (245 - 208 milhões de anos): Formações Pirambóia e Rosário do Sul, no Brasil, e Buena Vista no Uruguai; sedimentos eólicos desérticos do período Jurássico (208 - 144 milhões de anos): Formações Botucatu, no Brasil; Misiones, no Paraguai; e Tacuarembó no Uruguai e Argentina (Rocha, 1997).
As reservas permanentes de água do aqüífero são da ordem de 45.000 km3 (ou 45 trilhões de metros cúbicos), considerando uma espessura média aqüífera de 250m e porosidade efetiva de 15%. As reservas explotáveis correspondem à recarga natural (média plurianual) e foram calculadas em 166 km3/ano ou 5 mil m3/s, representando o potencial renovável de água que circula no aqüífero. A recarga natural ocorre por meio da infiltração direta das águas de chuva nas áreas de afloramento das rochas do Guarani; e de forma indireta, por filtração vertical (drenança) ao longo de descontinuidades das rochas do pacote confinante sobrejacente, nas áreas onde a carga piezométrica favorece os fluxos descendentes.
Sob condições naturais, apenas uma parcela das reservas reguladoras é passível de explotação. Em geral, esta parcela é calculada entre 25% e 50% (Rebouças, 1992) das reservas reguladoras, respectivamente entre 40 a 80 km3/ano. Este volume pode aumentar dependendo da adoção de técnicas de desenvolvimento de aqüíferos disponíveis; contudo, os estudos deverão ser aprofundados para definir a taxa de explotação sustentável das reservas, uma vez que a soma das extrações com as descargas naturais do aqüífero para rios e oceano, não pode ser superior a sua recarga natural.
A proteção contra os agentes de poluição que comumente afetam os mananciais de água na superfície, que decorre de mecanismos naturais de filtração e autodepuração bio-geoquímica que ocorrem no subsolo, resulta numa água de excelente qualidade. A qualidade da água e a possibilidade de captação nos próprios locais onde ocorrem as demandas fazem com que o aproveitamento das águas do aqüífero Guarani assuma características econômicas, sociais e políticas destacadas para abastecimento da população.
Aspectos relativos ao desenvolvimento e uso das funções do aqüífero são ainda incipientes. O uso da energia termal de suas águas poderá resultar, eventualmente, em economia de energia de outras fontes e em processos de co-geração de energia elétrica. Atualmente, destaca-se o uso energético em balneários e indústrias agropecuárias.
Um dos principais problemas existentes é o risco de deterioração do aqüífero em decorrência do aumento dos volumes explotados e do crescimento das fontes de poluição pontuais e difusas. Essa situação exige gerenciamento adequado por parte das esferas de governo federal, estadual e municipal sobre as condições de aproveitamento dos recursos do aqüífero.
O Projeto Aqüífero Guarani visa contribuir para a superação da situação atual por meio da formulação de um modelo técnico, legal e institucional para a gestão dos recursos do aqüífero de forma coordenada pelo conjunto dos países e organismos envolvidos.
Referências:Araújo, L.M. França, A.B. e Potter, P.E. 1995. Aqüífero Gigante do MERCOSUL no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai: Mapas hidrogeológicos das Formações Botucatu, Pirambóia, Rosário do Sul, Buena Vista, Misiones e Tacuarembó. UFPR e PETROBRÁS, 16 p. Curitiba, Paraná - Brasil.
Rebouças, A.C. 1976. Recursos Hídricos Subterrâneos da Bacia do Paraná: Análise da pré-viabilidade. Tese de Livre Docência. Universidade de São Paulo, 143p.
Rocha, G.A. 1997. O grande manancial do Cone Sul. USP, Estudos Avançados no 30. p. 191-212.
Para maiores informações visite o site: http://www.ana.gov.br/guarani
Universidade da Água
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