Petróleo e terror movem poderio bélico Em linha de guerra ao terror e com suas ambições geopolíticas, o governo George W. Bush promoveu a maior reorganização e modernização das tropas militares americanas dos últimos 50 anos. No início do seu governo, Bush prometeu manter a força militar americana ""acima de todos os desafios, tornando qualquer corrida armamentista de tempos passados totalmente inútil". Depois do 11 de Setembro, Bush anunciou que essa mesma força "acima de todos os desafios" se arrogava o direito de atacar outros países preventivamente, caso se sentisse intimidada. O governo Bush vê o ""resultado positivo" dessa ameaça no ditador líbio, Muammar Gaddafi, que abandonou seu programa de armas e decidiu abrir o país a investimentos americanos. Mas lá onde realmente mora o perigo, segundo os EUA, tal política provocou apenas o efeito inverso. Nos outros dois integrantes do chamado ""eixo do mal" (Coréia do Norte e Irã), a mensagem dos "ataques preventivos" pode ter levado a uma aceleração também "preventiva" de projetos nucleares capitaneados por seus líderes. Como reforço à atual política, tanto Bush quanto John Kerry afirmaram na campanha eleitoral que os EUA não se submeterão a nenhuma instituição internacional para tomar medidas bélicas que considerem necessárias. O descaso com a ONU e com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é exacerbado ainda por orçamentos militares recordes no governo Bush e por uma movimentação de tropas pelo mundo ainda não totalmente compreendida. O resultado é que todo um conjunto de alianças militares construídas ao longo dos últimos 50 anos estremeceu nos anos Bush. A magra coalizão militar no Iraque é a prova disso. Há pouco mais de duas semanas, os EUA aprovaram um novo orçamento militar de US$ 422 bilhões para 2005, visando a modernização e o deslocamento de suas tropas pelo globo. Como Bush, Kerry promete manter os investimentos militares nos mesmos níveis atuais, aumentar em cerca de 40 mil homens a força ativa e continuar a atual reorganização. Geopoliticamente, ganharam predominância na Ásia e ao sul da China países como Filipinas, Malásia e Cingapura; na África e a oeste da Arábia Saudita, o minúsculo africano Djibuti; e ao sul da Rússia e oeste da China, o Cazaquistão e o Uzbequistão, próximos às reservas petrolíferas do mar Cáspio. No centro do Oriente Médio, os EUA têm outros 120 mil homens no Iraque, além de 18 mil no Afeganistão. Entre os dois países, está o Irã. Logo abaixo, o pequeno Qatar também vem recebendo novos contingentes. Em 2004, por exemplo, 40% do aumento da demanda mundial por petróleo terá como origem a China, segundo dados do FMI. Em dez anos, os chineses poderão estar totalmente dependentes do petróleo da Arábia Saudita e da região do mar Cáspio. FERNANDO CANZIAN |