Geografia
A noite evanescente - parte 2
As tartarugas marinhas, que fazem ninhos e demonstram predileção natural por praias escuras, têm cada vez mais dificuldade de encontrá-las. Seus filhotes, que gravitam em direção a um horizonte marinho mais refletivo e luminoso, confundem-se com as luzes artificiais das praias urbanas. Só na Flórida, as perdas de filhotes contam-se em centenas de milhares todos os anos. Rãs e sapos que vivem perto de rodovias enfrentam níveis de luminosidade noturna que chegam a ser 1 milhão de vezes mais intensos que o normal, desregulando todos os aspectos de seu comportamento, inclusive os coros noturnos de acasalamento das rãs.
Entre todas as formas de poluição, a luminosa é talvez a mais fácil de remediar. Simples mudanças no desenho e na instalação das luminárias acarretam mudanças imediatas na quantidade de luz espalhada pela atmosfera, muitas vezes com conseqüente poupança de energia.
Tempos atrás, acreditava-se que a poluição luminosa afetava apenas os astrônomos, que precisavam enxergar o céu noturno em toda a sua esplendorosa claridade. Na verdade, alguns dos primeiros esforços cívicos para controlar essa forma de poluição - em Flagstaff, no Arizona, meio século atrás - foram empreendidos para proteger o Observatório Lowell, situado a cavaleiro da cidade. Flagstaff tornou mais rígidos seus controles desde então, sendo que, em 2001, foi declarada a primeira Cidade Internacional Sob Céu Escuro. Atualmente, o compromisso em controlar a poluição luminosa se disseminou pelo globo. Mais e mais cidades, e mesmo países, como a República Tcheca, se empenharam em reduzir a luminosidade indesejada.
Ao contrário dos astrônomos, a maior parte das pessoas não necessita em seu trabalho de um céu noturno não comprometido por luzes. Mas, a exemplo da maioria das criaturas vivas, nós também precisamos da escuridão, essencial para o nosso bem-estar, para o nosso relógio interno, tanto quanto a própria luz. A oscilação entre vigília e sono em nossa vida - um de nossos ritmos circadianos - nada mais é que a expressão biológica da oscilação da luz na Terra. São tão fundamentais esses ritmos à nossa existência que alterá-los é como mudar a força da gravidade.
Por todo o século passado, andamos realizando um experimento aberto com nossa própria vida ao estender o dia e encurtar a noite, provocando curto-circuitos na resposta sensorial do corpo humano à luz. As conseqüências de nosso iluminado mundo novo são observáveis com maior prontidão nos seres menos adaptáveis que vivem na luminescência periférica de nossa prosperidade. Mas também dos seres humanos a poluição luminosa pode cobrar seu preço biológico. Ao menos um novo estudo sugeriu correlação direta entre maiores taxas de incidência de câncer de mama em mulheres e a luminosidade noturna nas regiões em que elas habitam.
Ao fim e ao cabo, os seres humanos não se acham menos encurralados pela poluição luminosa que as rãs numa cacimba próxima a uma rodovia cheia de postes. Vivendo num clarão por nós mesmos fabricado, cortamos os laços que nos prendiam ao nosso patrimônio evolucionário e cultural - a luz das estrelas e os ritmos do dia e da noite. A poluição luminosa nos leva a perder de vista nosso verdadeiro lugar no universo e a esquecer a escala real de nossa existência, medida em grande parte em contraste com as dimensões de uma noite escura sob a curvatura da Via Láctea - a fronteira de nossa galáxia.
Por: Verlyn Klinkenborg Foto: Jim Richardson
Matéria publicada na Revista National Geographic
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