A importância estratégica do Porto de Mariel para o Brasil
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A importância estratégica do Porto de Mariel para o Brasil



O brasileiro é um bicho estranho. Acostumado com a presença estrangeira desde a mais tenra idade, seja através do convívio diário com as marcas das empresas transnacionais aqui instaladas ou mesmo de interferências diretas em nossa política interna, contraditoriamente, ele acha um verdadeiro absurdo quando o próprio Brasil participa de um empreendimento em outro país.

E olha que não estou sequer mencionando a questão cultural, como acontece com os filmes e com a música, só para ficar em dois exemplos que, dependendo do grau, reforçam e ampliam os anteriores, enriquecendo ou promovendo a perda de identidade de todo um povo.

No que se refere ao financiamento de US$ 957 milhões (682 milhões investidos pelo BNDES) nas obras do novo porto cubano de Mariel, construído pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality, o que mais se ouve é que, por proximidade ideológica, o governo troca investimentos no próprio país por um agrado a ditaduras ultrapassadas que desrespeitam os direitos humanos.

Pura besteira. A participação brasileira em Mariel não pode ser encarada como um afago ao "sofrido" povo cubano. A recente inauguração da primeira fase do terminal portuário, que contou com o comparecimento da presidente Dilma Roussef, faz parte do projeto de criação de uma Zona de Desenvolvimento Econômico aos moldes do que foi feito na China. Ou seja, de socialismo essa iniciativa não tem nada.

Além disso, a localização geográfica é outro aspecto determinante na análise do que representa Mariel para a política externa brasileira. A proximidade com o Canal do Panamá e, mais ainda, com os Estados Unidos, representam uma excelente oportunidade para a conquista de novos mercados e também para a consolidação do Brasil como uma potência verdadeiramente emergente.

Enfim, o negócio com Cuba não é ideologia, são negócios mesmo.

Leia a seguir o texto de Marcelo Odebrecht publicado hoje, 09/02, na Folha de S. Paulo.


Marcelo Odebrecht: Quanto mais "Mariels", melhor para o Brasil

Em 2013, a Odebrecht Infraestrutura faturou US$ 8 bilhões no exterior. Pena que apenas 12,5% vieram de projetos financiados pelos "créditos sigilosos" do BNDES. Com mais financiamentos, muito mais riqueza teria sido gerada no Brasil.

Aprendi com meu avô que o maior desperdício humano é muita eficiência para pouca eficácia. A recente inauguração do porto de Mariel, em Cuba, motivou um eficiente ataque ao governo na mídia. Mas essa é a batalha errada.

Quando temos como propósito mostrar quem ? em especial, o governo ? está errado, deixamos de focar o que está certo e o que precisa ser aprimorado.

O BNDES não investiu em Mariel. O BNDES financiou as exportações de cerca de 400 empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, no valor equivalente a 70% do projeto. Se o porto será de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora.

País que não exporta não cresce, não adquire divisas e não se insere na economia internacional. A exportação de serviços suporta hoje 1,7 milhão de postos de trabalho no Brasil, na interação com vários setores produtivos. Promove a inovação e estimula a capacitação de mão de obra altamente especializada.

Entretanto, lemos e ouvimos que o financiamento brasileiro gera empregos no exterior; que os contratos são sigilosos, talvez para encobrir negócios escusos; que drena recursos da nossa infraestrutura; e que o TCU (Tribunal de Contas da União) não fiscaliza.

Nada disso é verdade.

Primeiro: o financiamento à exportação gera empregos no Brasil, porque não há remessa de dinheiro para o exterior. Os recursos são desembolsados aqui, em reais, para a aquisição de 85% dos bens e serviços produzidos e prestados por trabalhadores brasileiros (os demais 15% são pagos à vista pelo importador).

Segundo: informações como o valor, destino e objeto do financiamento sempre foram públicas, como pudemos ouvir e ler em todos os meios que trataram de Mariel. As únicas informações que não são públicas são as usuais das operações bancárias, como o valor do seguro, eventuais contragarantias e as taxas que compõem a operação.

Nos financiamentos feitos pelos chineses, alemães, americanos, enfim, por todos os países, essas informações também são confidenciais. Não foram o Brasil e Cuba que inventaram essa regra.

Terceiro: os recursos que financiam exportações não concorrem com os destinados a projetos no Brasil e são providos por fontes diferentes. Os números falam por si: em 2012, o BNDES destinou cerca de US$ 7 bilhões para apoiar o comércio exterior e US$ 173 bilhões para o mercado interno.

O porto de Cuba não impediu a construção de nenhum projeto no Brasil. Aliás, até ajudou.

Por meio da exportação de serviços, como a de Mariel, a Odebrecht se capacita e gera resultados que aplica aqui, como fez no terminal de contêineres da Embraport, em Santos. É o maior do Brasil e foi construído pela Odebrecht, simultaneamente a Mariel, com investimento próprio de R$ 1,8 bilhão.

Quanto ao TCU, ele fiscaliza, sim, certificando se são nacionais os bens e serviços exportados.

Finalmente, para quem está questionando os riscos quanto ao pagamento, é importante saber que a ocorrência de calotes não está relacionada a alinhamentos ideológicos: os maiores "defaults" recentemente enfrentados pelo Brasil vieram dos Estados Unidos e do Chile.

Pensando como pai, esse episódio me lembra daqueles que criticam a boa nota que o filho tirou em matemática, porque o garoto está indo mal em português. Pensando como brasileiro, proponho a identificação e o debate de nossos reais desafios e a escolha das batalhas certas para colocar nossas energias.

MARCELO ODEBRECHT, 45, engenheiro civil, é presidente da Odebrecht, empresa brasileira que atua em áreas como engenharia, construção e petroquímica.

Folha de S. Paulo ? 09/02/2014







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