A "mídia" e a escola na cabeça contraditória de um professor
Geografia

A "mídia" e a escola na cabeça contraditória de um professor


Depois que eu publiquei um estudo na revista Conhecimento Prático Geografia sobre o problema da doutrinação no sistema brasileiro de ensino, comecei a debater o assunto por e-mail com dois professores que me escreveram para manifestar suas discordâncias em relação às minhas conclusões. Partes desse debate eu organizei em um texto (disponível aqui), mas o diálogo continuou rolando, ao menos com um deles. Então, para que um assunto importante como esse não fique restrito a tão pouca gente, vou reproduzir agora uma passagem da discussão mais recente que exemplifica muito bem a visão autoritária e contraditória que os professores que se dizem críticos têm do ensino e dos meios de comunicação de massa.
Ele diz: "nossos alunos não podem ser subestimados quanto à capacidade de perceberem, a qualquer instante, tentativas de doutrinamento, de manipulação, professor! Estamos no século XXI, as redes sociais estão aí, servindo de ferramenta até para derrubar ditaduras de décadas. Sustentar essa tese em pleno séc. XXI? As doutrinações hoje não passam pela escola, mas pela mídia, percebeu?".

E a minha resposta segue abaixo.

Eu já realizei uma pesquisa com 121 alunos do último ano do ensino médio da cidade de Curitiba, a qual evidencia a eficácia da doutrinação teórica e ideológica praticada nas aulas de geografia geral. Os alunos reproduzem fielmente as visões esquerdistas expressas nos livros didáticos e dominantes na academia brasileira. Se quiser ler o resultado da pesquisa, é só clicar aqui.

Mas, mesmo que eu não dispusesse de tal evidência para contrapor à sua argumentação, poderia ainda apontar os problemas lógicos que ela contém. Vejamos:
  1. Os geógrafos críticos sempre disseram, repetiram e continuam repetindo que a geografia escolar tradicional servia para fazer doutrinação patriótica (e eu concordo com eles). Mas, pelo que você escreveu, devo concluir que isso não tinha a menor importância, já que os alunos percebiam e rejeitavam o conteúdo doutrinador? Ou devo concluir que os alunos só se tornaram imunes à doutrinação depois da TV e da internet? 
  2. Se os alunos percebem a doutrinação quando ela acontece, então não importa se um professor ensinar geografia tradicional para fazer doutrinação nacionalista, pois a molecada não vai cair no papo dele, não é verdade? Nesse sentido, as redes sociais e outros recursos da internet tornaram a função "conscientizadora" da geografia crítica escolar desimportante ou até inútil? 
  3. Mais adiante, você afirma: "A doutrina capitalista, no entanto, tem a capacidade de camuflar sua prática totalitarista com a indução psicológica ao consumo, via propaganda e marketing, de imagens concebidas a partir do inconsciente individual, ou seja, moldando, sistematicamente, segundo a segundo, no indivíduo, a cultura do "ter", a sociedade do 'agora'". Entendi. A internet faz os alunos imunes à doutrinação ideológica nas escolas, mas não os protege de manipulações efetuadas pela propaganda e pelo marketing. A garotada que usa redes sociais não cai na conversa do professor, mas se deixa levar por uma lavagem cerebral feita pelo marketing. Eu só gostaria de saber o motivo de tantas empresas multinacionais perderem tanto dinheiro lançando produtos que não agradam aos clientes se o marketing é tão eficaz assim. 
A suposição de que a doutrinação só era possível quando a geografia dominante era a tradicional é muito conveniente para os geógrafos críticos. E, à luz da pesquisa que realizei, concluo que suas afirmações são só desculpas para os professores atuais continuarem transmitindo conteúdos definidos unilateralmente pela geocrítica sem se preocuparem com o fato de que isso é doutrinação. O mesmo ocorre quando você diz que a escola brasileira, dominada pelo esquerdismo, é inútil como aparelho ideológico, mas os meios de comunicação de massa, que a esquerda não controla plenamente, são poderosíssimos.

A esquerda é assim mesmo: quando não controla um espaço de comunicação, cobra pluralismo, isenção e ainda acusa os profissionais da área de fazerem lavagem cerebral; mas, quando a esquerda alcança hegemonia, como em nosso sistema de ensino, não dá voz ao contraditório e diz que ser isento é impossível, já que todo discurso seria ideológico.

Comentário adicional: é pelo mesmo motivo que os petralhas vivem a defender o "controle social da imprensa" (leia-se "censura") ao mesmo tempo em que dizem não haver ensino "neutro".




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